domingo, 25 de abril de 2010

teatro fotos e peça adaptada "Farsa do Velho da Horta" (Gil Vicente) Adaptação 5a C 2009








ADAPTAÇÃO DA OBRA PARA 5ªS SÉRIES
Esta seguinte farsa é o seu argumento que um homem honrado e muito rico, já velho, tinha uma horta: e andando uma manhã por ela espairecendo, estando o seu Ajudante fora, veio uma moça bonita buscar verduras, e o velho em tanta maneira se enamorou dela. Entra logo o velho rezando pela horta. Foi representada ao rei D. Manuel, o primeiro desse nome. Era do Senhor de 1512, século XVI em Portugal.
CENÁRIO Uma horta feita com folhas de alface ou outras verduras.
Uma cadeira onde senta-se o velho para admirar a horta
Entra o velho vagarosamente, queixando-se de dores nas costas, mexendo com o público. Uma bengala. Vê a horta, ajoelha-se e diz:
Velho - Pai nosso, Criador, piedoso. Perdoai-nos porque somos fracos e caímos em tentação. Amém.
.Entram algumas mocinhas com um cesto, (UMA DE CADA VEZ) escolhem as hortaliças: dizem – Minha mãe pediu para vir buscar verduras.... (após escolherem) – Aqui está o dinheiro. Obrigada.
Após a entrada de umas três mocinhas, entra a Moça, personagem principal:
Diz o VELHO:
Senhora, benza-vos Deus!!!!
MOÇA – Amém!
VELHO - Onde se criou tal flor?
MOÇA - No chão.
VELHO - Nunca vi dama tão linda!!
MOÇA - Ai! Quanto elogio barato!!!
VELHO - Que veio buscar?Meu coração?
MOÇA - Venho atrás de verduras..
VELHO- O amor é uma flor....
MOÇA- Roxa que nasce no coração dos trouxas!!
VELHO - Meu amor, meu coração!
MOÇA - Jesus! Jesus! (para a platéia) Ele perdeu a razão.
VELHO - Estou apaixonado!!! (Começa a tossir)
MOÇA - E essa tosse? Não percebe que é velho!!!
Velho -: Mas a amo como se tivesse 20 anos!!!
MOÇA - Não percebe que já está quase morto? O senhor é louco!!!
Velho: Vem cá meu docinho...
Moça: As daqui seu ovo podre!!!!
VELHO - Quanto mais me xingar mais estarei apaixonado... Queria não ter conhecido moça tão bela!!!
MOÇA - O vosso ajudante não vem? Estou com pressa.
VELHO - Toda a minha horta é vossa.
Assim cantando, colheu a MOÇA da horta o que vinha buscar e, acabado, diz:
Eis aqui o que colhi; ( e oferece as moedas para pagar)
VELHO Não é preciso pagar... Pois leva meu coração!!!
MOÇA - Senhor, com sua licença!!!
VELHO - Leve esta rosa ( colhe no jardim)
MOÇA- Uma rosa? Para que? (joga no chão com raiva) e sai.
. Vem um Ajudante do VELHO, e diz:
Ajudante: Patrão, sua esposa quer saber por que está aqui. Já é tarde.
VELHO - Vai te catar!!!
AJUD.- Ela pede que vá almoçar. E pede que não demore.
VELHO - Não quero comer, nem beber.
PARVO Pois quê?
VELHO Vai-te daí.
VELHO - Oh minha amada... Como vou viver sem ver seus olhos...
O ajudante sai e volta:
AJUD. Sua esposa o espera... Ainda não almoçou esperando pelo Senhor...
Eu fui lhe dizer dessa rosa e está nervosa!!! (mostra a rosa que havia pegado do chão)
Vem a MULHER do VELHO e diz:
Hui! Que sina desastrada!(vê a rosa) Fernando, que é isto?
VELHO Oh velha rabugenta...chata.... feia e desdentada!!!
MULHER Infeliz dos meus dias!
VELHO Vai para o inferno!!!
Mulher: Explique-me esta rosa...
Velho Eu estou apaixonado.
Mulher... Veja sua idade... depois de velho quer se tornar garanhão??
Velho: Sai daqui sua velha ...
Mulher... Acho que vou, antes que eu apanhe.... (DIZ PARA A PLATEIA)
Entra Branca Gil, ALCOVITEIRA, e diz:
Boa tarde, senhor.
VELHO Olá! Veio em boa hora! Estou apaixonado e a moça só ri de mim.. ALCOVITEIRA Mas, senhor, agora na velhice. Diga-me: quem é ela? Já sei... É bonita como estrela.
VELHO Acuda-me Branca Gil, que desmaio.
Esmorece o VELHO e a ALCOVITEIRA começa a ladainha: (AJOELHADA)
Todos os santos. SÃO Judas, Santo Antonio, São José.... Deem remédio a este coitado.
Eu prometo uma oração, todo dia, em quatro meses se este velho casar-se com ela.
VELHO É mentira sua !!!
ALCOVITEIR Não, é verdade. Que assim seja!!.
VELHO Vai falar com ela, diga que estou apaixonado e lhe pagarei bem isto. Tem aqui 500 reais. Dê a ela como um agrado.
Vai-se a ALCOVITEIRA
O VELHO ( cantando música de amor ou disco tocando)
Volta a ALCOVITEIRA : Ela ainda não quer nada com o senhor.
VELHO - Eu lhe pagarei em dobro.
ALCOVITEIRA - Isso... mais importante ser feliz que ter dinheiro. (sai contando as moedas)
VELHO Eis aqui 600 reiais.
Enquanto a ALCOVITEIRA vai, VELHO torna a prosseguir o seu cantar .
Alcoviteira volta e diz: Está apaixonada e com saudade .Pede dinheiro para comprar uma roupa, sapato, brincos...
VELHO - Tomai.
Vai-se ela e o VELHO torna a prosseguir a sua música e, acabada, torna a ALCOVITEIRA e diz:
Dei uma topada. Trago os sapatos rasgados nestas vindas, destas idas, e no fim não ganho nada!!!
VELHO Eis aqui cem reais para ti.
ALCOVITEIRA - Começo com boa estréia!
Vem um policial acompanhado de quatro soldados, e diz:
Dona, levantai-vos daí!
ALCOVITEIRA Que quer?
ALCAIDE - Você vai para a cadeia!
VELHO - Senhores, homens de bem, escutem. Ela é minha amiga.
Alcov. Não tenho medo de vocês..(diz ela, irônica)
Policial - Levantai-vos daí, senhora!!
Levam-na presa e fica o VELHO dizendo:
Oh! Triste quem se namora de alguém!
Vem uma MOCINHA à horta e diz:
MOCINHA- Estais doente, ou que há? (Vendo o velho triste)
VELHO - Estou desconsolado.
MOCINHA Não chore! Pior destino tem aquela.
VELHO Quem ?
MOCINHA Branca Gil.
VELHO Como?
MOCINHA Mesmo apanhando da polícia ainda está feliz... ria quando viu uma moça indo para a igreja se casar.
VELHO É a minha.!!
(para-se a cena e entram desfilando os noivos e convidados, passeiam pelo palco indo como se fossem para a igreja) A mocinha diz, enquanto eles andam vagarosamente..
MOCINHA! - O Noivo, moço bonito, não tirava os olhos dela, e ela dele. Fazem um belo par.
VELHO - Perdi todo meu dinheiro. Agora só quero a morte. Tenho quatro filhas que criei e nada tenho para deixar para elas.. Elas hão de padecer, porque não lhe deixo nada. Gastei tudo. Tanta fortuna e tão mal gasta... e cai
Vêm as filhas (ou filhos) do velho e tentam acordá-lo
- Papai!!!
(mas um dos filhos percebe e diz) – Está morto.
Ficam inconsolados.
Fecha-se a cortina.

FIM
Personagens> velho, moça, mulher, ajudante, branca Gil, um policial e quatro soldados, a moça no fim da peça .Outros... mulheres que vão comprar verduras... umas quatro, filhos do velho, ao final da peça.

SOBRE A PEÇA ORIGINAL ESCRITA POR GIL VICENTE:

O Velho da Horta, de Gil Vicente
Análise da obra

Em O Velho da Horta, de 1512, Gil Vicente revela perfeito domínio do diálogo e grande poder de lidar com personagens e ações que se aproximam da comicidade. Utiliza pouco aparato cênico, colocando toda a ação em um mesmo cenário (a horta) e os acontecimentos que se realizam fora da horta são referidos como fatos que vêm de fora. Todos os episódios têm uma única direção: o desfecho, e isso garante a unidade da peça.

O Velho da Horta é uma peça de enredo, na qual se desenvolve uma ação contínua e encadeada, em torno de um episódio extraído da vida real, ou em torno de uma série de episódios envolvendo uma personagem central, ou articulando uma ação dramática homogênea e completamente desenvolvida, com um travejamento mais complexo, com começo, meio e fim.

Gil Vicente é um criador de tipos. A linguagem do Velho é um arremedo da poesia palaciana. A linguagem da Moça é zombeteira e se contrapõe à do velho. A obra é uma peça de teatro escrita em versos.

O argumento gira em torno das desventuras de um homem já entrado nos anos e seu frustrado amor por uma jovem que vem à sua horta comprar verduras. Por meio do diálogo entre o velho e a jovem, Gil Vicente capta a crueza de uma situação que oscila entre o ridículo e o ilusório. O Velho apaixonado deixa-se levar por um amor imprudente e obcecado; a Moça, motivo dos sonhos do Velho, é irônica, sarcástica e retribui as declarações de amor com zombarias.

A cena inicial é marcada pela tentativa de conquista e o diálogo se dá entre o lirismo enamorado do Velho e os ditos zombeteiros da Moça. Em seguida, entra em cena uma alcoviteira que oferece seus préstimos profissionais para garantir ao Velho a posse da amada. Mediante promessas de que o êxito está próximo, a mulher extorque toda a riqueza do Velho. Finalmente, entra em cena a Justiça que prende a alcoviteira, mas retira do Velho a esperança de ver realizado tão louco amor. No final, vem a notícia de que a jovem que motivou tão tresloucada paixão casou-se.

Estrutura da obra

Quatro versos em redondilhas maiores e um quinto verso com três sílabas métricas. Os conceitos formulados pelo Velho acerca da natureza do amor são do formulário lírico dos poetas quinhentistas (Petrarca). A interlocução do Velho apaixonado, contagiado pelo gosto das antíteses e pelo conceito do conflito entre a razão e o sentimento amoroso:

“que morrer é acabar

e amor não tem saída"

Temática

O tema central é o amor tardio, extemporâneo, as conseqüências desastrosas desse amor e o patético e ridículo do assédio de um velho, que se julga irresistível, a uma jovem esperta e prudente.

Personagens

Parvo – criado do Velho com pouca cultura,limitando-se a chamar-lhe às realidades primárias da vida (o comer) incapaz de compreender grandes dramas.

Alcoviteira – figura pitoresca da baixa sociedade peninsular astuciosa e mistificadora,cuja moral independe de todas as leis da sensibilidade.

Alcaide – antigo oficial de Justiça.

Beleguins – agentes de polícia.

Mocinha – personagem que vai até a horta comprar.

Mulher – espera do Velho.

Velho – idoso, proprietário de uma horta, apaixona-se subitamente por uma jovem compradora.

Moça – rapariga com certa experiência, já balzaquiana, com resposta ao pé da letra, confiante em si mesmo, disposta a zombar de um velho inofensivo,sem quebra da sua dignidade pessoal.

Observamos no enredo a seqüência magistral de estados de espírito com que a moça acata ou reage aos galanteios do velho.

Enredo

A ação se inicia quando a Moça vai à horta do Velho buscar hortaliças, e este se apaixona perdidamente por ela. No diálogo entre ambos estabelecem-se dois planos de linguagem: a linguagem galanteadora do Velho, estereotipada, repleta de lugares-comuns da poesia palaciana do Cancioneiro Geral, cujo artificialismo Gil Vicente parodia ironicamente, e a linguagem zombeteira e às vezes mordaz da Moça que não se deixa enganar pelas palavras encantadoras do pretendente e não se sente atraída nem por ele , nem por sua fortuna, nem por sua "lábia" cortesã. São duas visões opostas da realidade: a visão idealizadora do Velho apaixonado e a visão realista da Moça.

Uma alcoviteira, Branca Gil, promete ao Velho a posse da jovem amada e, com isso, vai extorquindo todo seu dinheiro. Na cena final, o Velho, desenganado, só, e reduzido à pobreza, pois gastara tudo o que tinha, deixando ao desamparo suas quatro filhas, reconhece o seu engano e se arrepende. A Alcoviteira é açoitada, e a Moça casa-se honestamente com um belo rapaz. A introdução ao texto da peça esclarece que a farsa foi encenada em 1512, na presença de D. Manuel I, rei de Portugal.

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